segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Da resiliência

Em adolescente, quando me meti na relação mais tóxica que já tive, que me deixou com alguns danos emocionais e problemas de confiança, senti que tinha sido o meu momento mais baixo. Uns anos depois, quando conheci o pai do meu filho, recuperei a autoestima que sempre tive, até nos separarmos, altura em que pensei que já não sabia estar sozinha e que não ia conseguir lidar com a separação. Até descobrir que estava grávida e a vinda do meu filho ter mudado isso. O nascimento do Leo foi das melhores coisas que me aconteceu, descobri que gosto muito de ser mãe e recuperei a minha autoconfiança. Foi o meu filho que me deu força para tudo e vê-lo crescer sempre foi algo que me preencheu muito. Uns anos antes de ter a Alice, quando passei pelo aborto, senti que tinha sido, depois de tudo, o acontecimento mais traumático da minha vida. Foi complicado, apanhei um médico completamente insensível no hospital, tive dores insuportáveis, sangrei imenso, sofri muito com a perda de um filho que tinha planeado e fui-me muito abaixo. Mas consegui recuperar e voltar a desejar ser mãe. Na gravidez da Alice, puseram a hipótese de ela ter síndrome de down e tive que fazer uma amniocentese. Foi uma angústia que, felizmente passou rapidamente, quando o resultado chegou e, não só nos disseram que estava tudo bem, como também o sexo da criança. O nascimento da minha filha foi mais uma lufada de ar fresco, que me fez transbordar de amor, por ela, pela nossa família, pelo carinho que o irmão mostrava para com ela. Dois anos depois, quando me disseram que havia a possibilidade de ela estar no espectro do autismo, caiu-me tudo novamente, por não fazer ideia como lidar. Porém, aceitei que ela precisava de ajuda, procurei e fiz tudo o que era preciso para ela ter o acompanhamento necessário. Veio a revelar-se que não era tão severo como julgavam e que era um atraso global no desenvolvimento, tendo as terapias e a escolinha feito maravilhas pelo desenvolvimento dela. 


Apesar de todos os momentos mais baixos da minha vida, consegui ultrapassá-los todos, considero-me uma pessoa resiliente, segura de si, bem resolvida, optimista e capaz de lidar com as adversidades. Tudo características de que me orgulho em mim. Porém, em setembro, quando o meu filho tentou tirar a própria vida, questionei tudo. Foi, de longe, a pior coisa pela qual passei. Acredito, no fundo, que tal como tudo o resto, irei superar. Mas, caraças, como tem sido difícil... Ninguém nos prepara para isto. Não há nada que nos faça sentir mais impotentes do que a possibilidade de perder um filho. Vivo com medo o tempo todo. Não desejo isto a ninguém. Cuidem da vossa saúde mental e procurem sinais nas pessoas que vos rodeiam. A depressão é uma merda muitas vezes invisível, que pode causar muitos estragos.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Voltei?

Passaram 4 anos desde a última vez que escrevi neste blog. A minha ausência por aqui foi um acaso da vida, não decidi deixar este cantinho, simplesmente aconteceu. E durante 4 anos não senti necessidade de voltar. Neste momento da minha vida, começo a sentir muita falta de escrever. Sempre foi uma coisa de que gostei e, actualmente, estando a ser seguida por uma psicóloga, recomecei a escrever.

Muita coisa mudou na minha vida nestes últimos anos e, na verdade, nem sei bem por onde começar. Não têm sido tempos fáceis para a minha família. Os últimos anos trouxeram-me coisas boas. Voltei a trabalhar em 2021 na fábrica onde estive durante 5 anos, que é um pouco a minha casa, cujo trabalho sei fazer bem, despedi-me da minha colega mais antiga, que se mudou o ano passado para França; mas também conheci pessoas novas por lá. Fiz duas boas amigas, uma das quais se tornou mesmo muito próxima. Recomecei a sair à noite, que foi algo que também sempre gostei e que durante tanto tempo deixei de lado.

Num dos meus últimos posts por aqui, falei sobre o desenvolvimento da minha filha. A Alice está neste momento com 5 anos, com diagnóstico confirmado de atraso global de desenvolvimento. Está no 2º ano do pré-escolar, é uma menina bem-disposta e carinhosa, que tem desenvolvido bastante bem com a entrada na escola e as terapias (ocupacional e da fala). Continua a ser uma criança desafiante, creio que será sempre, mas é maravilhoso vê-la desenvolver-se e alcançar metas. 

Infelizmente, nem tudo são boas novidades. Em setembro, o meu mundo foi completamente virado do avesso. O meu filho, que completou 15 anos em janeiro, passou por uma tentativa de suicídio. Neste post de regresso, ainda não vou aprofundar muito o quanto este acontecimento mudou a minha vida, mas posso assegurar que foi das coisas mais traumáticas por que passei, não só por ter sido uma completa surpresa, mas também pela forma como as coisas aconteceram. Nunca pensei ser a mãe de um miúdo que tentou tirar a própria vida. Fisicamente, ele já está bem, psicologicamente estamos no caminho.

Provavelmente estarei mais por aqui nos próximos tempos. Não sei se terei alguém a ler-me ainda, mas na verdade o meu regresso deve-se mais à minha necessidade de escrever do que de ser lida. Ainda assim, se ainda estiver alguém desse lado, obrigada. Estou de volta.

Refúgio

Sempre fui uma pessoa saudosista. Sempre fui muito de fotografar tudo para ter memórias físicas de todos os momentos. Mas desde que acontece...