segunda-feira, 15 de abril de 2024

Refúgio

Sempre fui uma pessoa saudosista. Sempre fui muito de fotografar tudo para ter memórias físicas de todos os momentos. Mas desde que aconteceu aquilo ao meu filho, isso acentuou-se. Sempre consegui lidar com todos os problemas e obstáculos da vida sem fugir deles, enfrentando e arranjando soluções. Neste momento, continuo a fazê-lo o melhor que posso, mas algo mudou em mim. Não me sinto com a mesma força. Farei o que for preciso para que as coisas corram bem, mas a verdade é que sinto muita falta da fase da minha vida em que as minhas maiores preocupações eram ter boas notas e planear programas com os meus amigos. Sou da geração que viu nascer os Morangos com açúcar e nos últimos meses tenho andado a rever episódios. Duas das coisas que mais gosto de fazer são ler e ver séries, nenhuma das quais tenho conseguido, porque o meu poder de concentração não mo permite. E tenho-me refugiado nos Morangos porque não requer concentração, distrai-me e, principalmente, porque me remete para a fase da minha vida onde eu voltava sem pensar duas vezes: a adolescência. Acho que nem tinha bem noção do quão feliz era nessa altura. Só queria voltar a ter 14 anos, quando não existiam redes sociais, não tinha problemas financeiros, não tinha responsabilidades de vida adulta e só queria chegar a casa a horas de ver os Morangos com açúcar; sentir aquela excitação de início de ano lectivo por rever os colegas, ter cadernos giros e novos e canetas de gel com cheiro a melão e canela.

Refúgio

Sempre fui uma pessoa saudosista. Sempre fui muito de fotografar tudo para ter memórias físicas de todos os momentos. Mas desde que acontece...