sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Caso Nuno da Silva

Sabem aquele concorrente do reality show Love On Top, o Nuno? Creio não ser novidade para ninguém, pois tem estado em todas as notícias e redes sociais nos últimos dias, a par da morte do Liam Payne, dos One Direction. O facto de ele ter tentado acabar com a vida do filho, a forma macabra como o fez e os motivos que, alegadamente, o levaram a esse extremo. Não o vou defender. Nunca irei defender quem atenta contra a vida dos próprios filhos, quando são crianças inocentes e indefesas, sem culpa nenhuma do trauma dos pais.

Posto isto... tem mexido bastante comigo as informações que têm passado cá para fora sobre a forma como este rapaz cresceu. Todo o historial de abusos por parte de várias figuras de referência, as várias tentativas de suicídio, as vozes na cabeça, a depressão, a incapacidade de lidar com tudo. Nenhuma criança devia passar pelo que ele passou, imagino o tamanho do trauma que isso causa numa pessoa e o quanto afecta o seu desenvolvimento e as suas capacidades sociais e de manter qualquer tipo de relação. O facto de ele afirmar que os filhos estariam melhor mortos para nunca passarem pelas mesmas atrocidades é profundamente perturbador, mas é também sinal de que, claramente, esta pessoa não passou pelo processo de cura após um grande trauma na vida.

É fácil para nós, que estamos de fora, dizer que nada justifica, que não tem perdão, que os filhos não têm culpa, que se estava mal devia procurar ajuda e por aí vai. E é tudo verdade. Contudo, por difícil que seja, é importante que consigamos perceber que não tendo uma saúde mental cuidada e não sendo uma pessoa estável psicologicamente, as coisas podem não ser tão claras, o discernimento não é o mesmo. 

Quando o meu filho estava internado na pedopsiquiatria, ao mesmo tempo, estava lá um outro adolescente que atentou contra a vida da mãe. E vários deles lá estavam por terem tentado tirar a própria vida, tal como ele. O meu filho pulou da janela do quarto a meio da noite, no 2º andar do prédio onde nós vivíamos, quando um dos maiores medos dele sempre foram as alturas. Não podemos tentar entender o que vai na cabeça de alguém que não está mentalmente em condições. O que podemos e devemos fazer é procurar ajudar.

No caso do Nuno, se ele deve ser penalizado pelo que fez? Epá... Certamente que sim. É um crime, apesar de tudo. Mas não me parece que atirá-lo para a prisão seja suficiente, depois de tudo o que a criatura passou na vida. Deve ser punido, mas também tratado. Porque ele, claramente, está doente. Cada vez mais entendo que a saúde mental é uma coisa extremamente complexa. E todos precisamos cuidar dela com a máxima atenção, porque, sem nos apercebermos, podemos enveredar por caminhos sem retorno sem que ninguém à nossa volta se aperceba.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Refúgio

Sempre fui uma pessoa saudosista. Sempre fui muito de fotografar tudo para ter memórias físicas de todos os momentos. Mas desde que aconteceu aquilo ao meu filho, isso acentuou-se. Sempre consegui lidar com todos os problemas e obstáculos da vida sem fugir deles, enfrentando e arranjando soluções. Neste momento, continuo a fazê-lo o melhor que posso, mas algo mudou em mim. Não me sinto com a mesma força. Farei o que for preciso para que as coisas corram bem, mas a verdade é que sinto muita falta da fase da minha vida em que as minhas maiores preocupações eram ter boas notas e planear programas com os meus amigos. Sou da geração que viu nascer os Morangos com açúcar e nos últimos meses tenho andado a rever episódios. Duas das coisas que mais gosto de fazer são ler e ver séries, nenhuma das quais tenho conseguido, porque o meu poder de concentração não mo permite. E tenho-me refugiado nos Morangos porque não requer concentração, distrai-me e, principalmente, porque me remete para a fase da minha vida onde eu voltava sem pensar duas vezes: a adolescência. Acho que nem tinha bem noção do quão feliz era nessa altura. Só queria voltar a ter 14 anos, quando não existiam redes sociais, não tinha problemas financeiros, não tinha responsabilidades de vida adulta e só queria chegar a casa a horas de ver os Morangos com açúcar; sentir aquela excitação de início de ano lectivo por rever os colegas, ter cadernos giros e novos e canetas de gel com cheiro a melão e canela.

quinta-feira, 21 de março de 2024

É claro que...

Sabem aquela trend do tiktok "é claro que..."? Eu apenas uso o tiktok para ver conteúdo, não faço qualquer tipo de vídeo, mas decidi aderir a esta trend aqui no blog, de uma forma mais discreta.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que eu me sinto culpada por nunca me ter apercebido que algo estava mal.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que agora tenho muito mais medo de o perder.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que isso nos aproximou e me permitiu começar a ouvir mais vezes que ele me ama.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que foi um choque para toda a gente na nossa família.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que nunca pensei ser a mãe de um adolescente com depressão.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que nunca vou ter a certeza se ele está efectivamente bem.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que descobri que os adolescentes são incrivelmente mais tóxicos do que na minha altura.


O meu filho é um sobrevivente, é claro que faço tudo o que estiver ao meu alcance para o ajudar e proteger.


O meu filho é um sobrevivente... É claro que toda a gente ofereceu ajuda e prometeram estar sempre presentes e 6 meses depois, tudo parece ter caído no esquecimento.

sexta-feira, 1 de março de 2024

Da maternidade

Se me perguntarem como é a maternidade... posso responder que é das coisas que mais me preenche, que é a forma mais pura de amor. Mas isso é bastante redutor. A maternidade é um mundo. Onde cabem várias formas de parentalidade e diferentes aprendizagens. Onde crescemos com os nossos filhos e conhecemos um diferente tipo de medo. Ele anda sempre de mãos dadas com a maternidade. Medo de não sermos capazes de os preparar para o mundo e para as adversidades da vida; medo dos preconceitos de uma sociedade que ainda não aceita a diferença e não respeita a individualidade de cada um; medo dos predadores e da violência que ceifa vidas e cria traumas; medo das relações tóxicas e dos efeitos que podem provocar na saúde física e mental; medo que eles não tenham as ferramentas suficientes para enfrentar os obstáculos que, inevitavelmente, se lhes vão apresentar; medo que eles não se consigam sentir realizados, cumprir os seus sonhos e alcançar os seus objectivos. Medo de os perder. O desafio maior é aprender a viver com esse medo.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Da resiliência

Em adolescente, quando me meti na relação mais tóxica que já tive, que me deixou com alguns danos emocionais e problemas de confiança, senti que tinha sido o meu momento mais baixo. Uns anos depois, quando conheci o pai do meu filho, recuperei a autoestima que sempre tive, até nos separarmos, altura em que pensei que já não sabia estar sozinha e que não ia conseguir lidar com a separação. Até descobrir que estava grávida e a vinda do meu filho ter mudado isso. O nascimento do Leo foi das melhores coisas que me aconteceu, descobri que gosto muito de ser mãe e recuperei a minha autoconfiança. Foi o meu filho que me deu força para tudo e vê-lo crescer sempre foi algo que me preencheu muito. Uns anos antes de ter a Alice, quando passei pelo aborto, senti que tinha sido, depois de tudo, o acontecimento mais traumático da minha vida. Foi complicado, apanhei um médico completamente insensível no hospital, tive dores insuportáveis, sangrei imenso, sofri muito com a perda de um filho que tinha planeado e fui-me muito abaixo. Mas consegui recuperar e voltar a desejar ser mãe. Na gravidez da Alice, puseram a hipótese de ela ter síndrome de down e tive que fazer uma amniocentese. Foi uma angústia que, felizmente passou rapidamente, quando o resultado chegou e, não só nos disseram que estava tudo bem, como também o sexo da criança. O nascimento da minha filha foi mais uma lufada de ar fresco, que me fez transbordar de amor, por ela, pela nossa família, pelo carinho que o irmão mostrava para com ela. Dois anos depois, quando me disseram que havia a possibilidade de ela estar no espectro do autismo, caiu-me tudo novamente, por não fazer ideia como lidar. Porém, aceitei que ela precisava de ajuda, procurei e fiz tudo o que era preciso para ela ter o acompanhamento necessário. Veio a revelar-se que não era tão severo como julgavam e que era um atraso global no desenvolvimento, tendo as terapias e a escolinha feito maravilhas pelo desenvolvimento dela. 


Apesar de todos os momentos mais baixos da minha vida, consegui ultrapassá-los todos, considero-me uma pessoa resiliente, segura de si, bem resolvida, optimista e capaz de lidar com as adversidades. Tudo características de que me orgulho em mim. Porém, em setembro, quando o meu filho tentou tirar a própria vida, questionei tudo. Foi, de longe, a pior coisa pela qual passei. Acredito, no fundo, que tal como tudo o resto, irei superar. Mas, caraças, como tem sido difícil... Ninguém nos prepara para isto. Não há nada que nos faça sentir mais impotentes do que a possibilidade de perder um filho. Vivo com medo o tempo todo. Não desejo isto a ninguém. Cuidem da vossa saúde mental e procurem sinais nas pessoas que vos rodeiam. A depressão é uma merda muitas vezes invisível, que pode causar muitos estragos.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Voltei?

Passaram 4 anos desde a última vez que escrevi neste blog. A minha ausência por aqui foi um acaso da vida, não decidi deixar este cantinho, simplesmente aconteceu. E durante 4 anos não senti necessidade de voltar. Neste momento da minha vida, começo a sentir muita falta de escrever. Sempre foi uma coisa de que gostei e, actualmente, estando a ser seguida por uma psicóloga, recomecei a escrever.

Muita coisa mudou na minha vida nestes últimos anos e, na verdade, nem sei bem por onde começar. Não têm sido tempos fáceis para a minha família. Os últimos anos trouxeram-me coisas boas. Voltei a trabalhar em 2021 na fábrica onde estive durante 5 anos, que é um pouco a minha casa, cujo trabalho sei fazer bem, despedi-me da minha colega mais antiga, que se mudou o ano passado para França; mas também conheci pessoas novas por lá. Fiz duas boas amigas, uma das quais se tornou mesmo muito próxima. Recomecei a sair à noite, que foi algo que também sempre gostei e que durante tanto tempo deixei de lado.

Num dos meus últimos posts por aqui, falei sobre o desenvolvimento da minha filha. A Alice está neste momento com 5 anos, com diagnóstico confirmado de atraso global de desenvolvimento. Está no 2º ano do pré-escolar, é uma menina bem-disposta e carinhosa, que tem desenvolvido bastante bem com a entrada na escola e as terapias (ocupacional e da fala). Continua a ser uma criança desafiante, creio que será sempre, mas é maravilhoso vê-la desenvolver-se e alcançar metas. 

Infelizmente, nem tudo são boas novidades. Em setembro, o meu mundo foi completamente virado do avesso. O meu filho, que completou 15 anos em janeiro, passou por uma tentativa de suicídio. Neste post de regresso, ainda não vou aprofundar muito o quanto este acontecimento mudou a minha vida, mas posso assegurar que foi das coisas mais traumáticas por que passei, não só por ter sido uma completa surpresa, mas também pela forma como as coisas aconteceram. Nunca pensei ser a mãe de um miúdo que tentou tirar a própria vida. Fisicamente, ele já está bem, psicologicamente estamos no caminho.

Provavelmente estarei mais por aqui nos próximos tempos. Não sei se terei alguém a ler-me ainda, mas na verdade o meu regresso deve-se mais à minha necessidade de escrever do que de ser lida. Ainda assim, se ainda estiver alguém desse lado, obrigada. Estou de volta.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A minha relação com o peso

Exactamente um mês depois do último post (sou péssima com a assiduidade por estas bandas), cá estou para vos falar um pouco deste tema. Toda  minha vida fui uma miúda gordinha e, felizmente, sempre bem resolvida. Nunca fui complexada, nunca deixei de usar a roupa de que gostava, nem nunca me preocupei com comentários alheios. Nunca deixei de ter amigos ou namorados por causa disso. Nunca deixei de dançar numa discoteca por ter vergonha que olhassem para mim. E sempre aceitei bem as minhas curvas.

Dito isto, também sempre tive perfeita noção de que o excesso de peso é prejudicial à saúde. O meu peso sempre oscilou muito, já tive fases em que estava mais magra, outras em que estava mais gorda. Há anos, ainda na adolescência, fiz uma dieta acompanhada por uma nutricionista, por ter decidido que talvez fosse bom para a minha saúde naquele momento perder algum peso. Perdi 15kg. Depois, como acontece frequentemente, deixei de me preocupar com a alimentação novamente, sempre fui muito gulosa, e com o passar dos anos, gradualmente, fui ganhando peso novamente.

Já adulta, já mãe do meu primeiro filho, devia ter uns 26 anos talvez, decidi que devia, mais uma vez, descer o número na balança. Nessa altura, não recorri a nenhuma nutricionista, simplesmente, durante algum tempo, controlei a minha alimentação e também foi quando comecei a fazer exercício. Sempre ODIEI exercício, sempre fui preguiçosa, mas contrariei essa tendência, começando pela zumba, já que dançar sempre foi algo de que gostei. Com o tempo, comecei a fazer outros treinos. Perdi 12kg.

Entretanto, voltei a deixar de me preocupar com isso quando engravidei e sofri um aborto e não quis saber mais de dietas nem voltei a treinar durante muito tempo. Engravidei da Alice já com bastante excesso de peso e durante a gravidez engordei mais do que devia. Depois, veio todo o cansaço e trabalho que um recém-nascido dá e, posteriormente, percebi que ela era uma criança que dava mesmo muito que fazer e a minha vontade de fazer alguma coisa em relação ao peso continuou nula. 

Comecei a ter alguns problemas pessoais na minha vida e no meu casamento, entrei numa letargia em que simplesmente deixei de me preocupar com tudo o que tivesse a ver comigo para, basicamente, viver para a minha filha. Até atingir um ponto crítico, em que resolvi que isso tinha que mudar tudo para bem da minha saúde mental e da minha relação. Foi quando fiz algumas mudanças na minha vida e a preocupação com o peso foi uma delas. No início do verão, iniciei uma dieta com uma nutricionista, voltei a treinar regularmente e, 6 meses volvidos, tenho menos 20kg.





Já tive que mandar apertar alguns vestidos, já desci tamanhos e perdi volume em várias áreas. Se é fácil? Não, não é, não vos vou enganar. 😂 E podia ter perdido mais se seguisse sempre a dieta à risca, mas vou dando umas facadinhas. E, ainda assim, estou satisfeita com o meu percurso até aqui. Estou mais leve, mais flexível, tenho mais facilidade em encontrar roupa e consigo treinar melhor. Continuo com excesso de peso e com trabalho pela frente, mas tenho orgulho do que já alcancei. 2020 foi um ano de merda em vários aspectos, mas deu-me algo de positivo.

Caso Nuno da Silva

Sabem aquele concorrente do reality show Love On Top, o Nuno? Creio não ser novidade para ninguém, pois tem estado em todas as notícias e re...