quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Motivação ou julgamento?



Aficcionados do desporto, não me saltem já para cima, porque EU SEI que a vontade conta muito e essas tretas todas. Mas vou aqui deixar a minha opinião!

Quem faz este tipo de observações deve ter palas como os burros e só vê numa direcção. Eu entendo, sim, que isto é motivação, que querem incentivar as pessoas a treinar, a cuidar de si, a ter uma vida mais saudável e etc. Sim, sei! Mas não concordo com esta forma de motivação.

E antes que me ataquem, por muito preguiçosa que possa ser, em Maio do ano passado inscrevi-me numa Academia de Dança e só estou agora parada por motivos de saúde. Por isso, podem acalmar já os vossos dedinhos impulsivos que estão doidos para me dizer que só penso assim porque não tenho força de vontade suficiente para levantar o rabo do sofá.

Isto é assumir que uma pessoa só trabalha 40h numa semana e que dorme apenas 8h por noite.
Que tem horários compatíveis com um ginásio.
Que tem quem fique com os filhos e cuide deles enquanto se está no ginásio.

Se uma mãe solteira quiser ir ao ginásio e, porventura, não tiver quem a possa ajudar com a criança, já pensaram que ginástica terá ela que fazer para cuidar do filho, ajudá-lo com trabalhos de casa ou mudar-lhe as fraldas, dar-lhe banho, dar-lhe jantar, fazer jantar, preparar as coisas para na manhã seguinte não andar à procura das coisas à pressa, fazer as tarefas domésticas que não se fazem sozinhas... enfim. 

E o tempo que se demora na viagem trabalho-casa? Eu demoro 10 minutos a chegar, mas há pessoas que demoram 1 hora, quando não é mais. Isso não conta também, não? Ainda não é possível estalar-se os dedinhos e estar em casa à hora de saída do trabalho!

As horas que sobram na semana nem sempre chegam para tudo o que é preciso fazer, quanto mais para os nossos hobbies. É uma questão de prioridades. Há sempre, inevitavelmente, coisas que ficam para trás. A força de vontade permite-nos conciliar todas estas coisas, mas não me queiram atirar areia para os olhos.

Eu sou mãe, trabalho num horário bom (das 8h às 16h30), de 2ª a 6ª feira, tenho um companheiro que divide comigo a educação e os assuntos relacionados com o meu filho, bem como as tarefas domésticas. E, MESMO ASSIM, quando vou à academia, o tempo é curto e apertado. Não tenho possibilidade de passar quase tempo nenhum com o meu filho. E há coisas que não consigo fazer, simplesmente, porque o tempo não estica. Portanto, das duas uma: ou vou todos os dias e passo tempo de qualidade com o meu filho só ao fim de semana, ou giro de outra forma o tempo e vou apenas alguns dias por semana, para poder estar com ele. E com o namorido.

Não é justo afirmar certas coisas e tirar conclusões sobre alguém só porque essa pessoa faz escolhas que vocês não julgam ser as correctas.
Porque escolhe passar todo o seu tempo livre com os filhos em vez de ir para o ginásio.
Porque prefere passar o pouco tempo que tem com o marido/a mulher.
Porque ao fim de um dia de trabalho ainda tem que passar a ferro, lavar a loiça e fazer o jantar e fá-lo em vez de ir para o ginásio, porque ninguém o faz por ela.
Porque tem que ter dois empregos para se sustentar e à família.

Nunca se achem no direito de pensar que, lá porque uma coisa resulta para vocês, tem que resultar para o vizinho.

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