Quando o meu filho era pequeno, ser filho de pais separados não era um problema. Ele nunca conheceu outra realidade, nunca viu os pais a viver juntos, nunca soube o que era fazer parte de um seio familiar onde o pai e a mãe fossem um casal. O pai emigrou quando ele tinha 2 anos. Os primeiros tempos foram um pouco difíceis, porque ele não entendia porque é que o pai não estava com ele. Era pequeno, como é que lhe explicava de modo a que ele entendesse? Até que ele se habituou e deixou de perguntar. E até aos seus 3 anos, não havia uma presença masculina a fazer o papel de pai, porque eu estive solteira durante esse tempo. Quando ele tinha 4 anos, viemos viver com o B. Pouco tempo depois, começou a chamar-lhe pai, sempre com a noção de que este não era o pai dele, porque sempre disse que tinha um verdadeiro e um emprestado, sem que ninguém lho ensinasse. Com 5 anos, entrou para a pré-escola. Chegando o Dia do Pai, trazia sempre uma prendinha. E o pai continuava fora. Nunca estava com ele neste dia. Nunca o meu filho colocou a hipótese de lhe dar essas prendinhas, sempre as deu naturalmente ao B. Há uns meses, o pai voltou para Portugal. E tudo se começou a complicar. As pequenas complicações foram surgindo ao longo dos anos, mas começou a pegar fogo há cerca de um ano, por uma série de pormenores com os quais não vos vou maçar. Hoje, o meu pequeno trouxe uma prendinha da escola para o Dia do Pai. E não sabia o que fazer com ela. Agora, está com o pai a cada 15 dias, sensivelmente. Disse-me que, se calhar, devia dar a prenda ao pai porque é o pai verdadeiro. Mas queria dar ao pai que vive com ele também. Tentando escolher as melhores palavras, tentei explicar-lhe de forma simples e que entendesse, que ele podia gostar igualmente dos dois e que não precisava escolher. Porque ser pai era mais do que fazer com que ele nascesse. Que cuidar dele e educá-lo, ajudá-lo com os trabalhos de casa, preparar-lhe o jantar, levá-lo ao médico, brincar com ele e tudo o mais também faz parte de ser pai. Deixei-o, então, tomar a decisão sozinho e ele quis oferecer a prenda da escola ao pai. E pediu-me ajuda para fazer uma para o B. E assim fizemos. No postal, agradeceu ao pai emprestado por viver com ele e cuidar dele. E escreveu que gosta quando o B. brinca com ele. Ser filho de pais separados é amar o pai e o padrasto. É sentir-se dividido. É ter dúvidas à medida que cresce. Porque, se quando ele era pequeno, isto não lhe fazia confusão, as coisas mudaram. Desde que entrou para a escola e começou a conhecer outras realidades, começou a fazer-me perguntas sobre esta dinâmica familiar. Porque é que eu e o pai estamos separados? Zangámo-nos? Porque não vivemos juntos? E como apareceu o pai emprestado na nossa vida? Somos namorados? Porque não sou namorada do pai dele? Porque é que não tem uma madrasta, se tem um padrasto? Porque não podemos viver todos juntos? E eu tenho que arranjar forma de lhe explicar tudo isto, sempre tendo em conta que ele não tem culpa seja do que for que se passe entre mim e o pai; sempre escolhendo as palavras cuidadosamente e sempre engolindo os nervos que trepam por mim acima quando o tema vem à baila, para que ele se sinta amado por toda a gente. Ser filho de pais separados é ter não uma família, mas várias.
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É mesmo isso, é ter várias famílias. Acho que há sempre uma delas que acaba por estar mais presente ou com a qual nos identificamos mais (no meu caso foi assim). Ser filho de pais separados pode ser um verdadeiro desafio, pessoalmente, não gostei da experiência. O grande problema foi que os meus pais nunca conseguiram separar os problemas deles da relação com os filhos e nós estivemos sempre no meio da tempestade. Acho que o mais importante é mesmo que façam o vosso filho sentir que é amado e que pode contar convosco em igual medida (;
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