Passaram 23 dias desde que perdi o meu tio. Os meus avós foram-se completamente abaixo. A minha mãe também, mas tenta aguentar o barco para ajudar os meus avós. A minha tia idem. Na maioria das noites, o meu filho não consegue dormir sozinho e chora. O meu pai perdeu o companheiro de noitadas, parvoíces e de uma vida inteira, a pessoa que melhor o entendia. O meu padrinho, também amigo de longa data, anda a bater mal com esta perda e a correr todos os sítios onde passavam tempo juntos, desde a altura em que todos se conheceram. Eu, que sou a campeã do sono, que dorme em qualquer lado e a qualquer hora do dia, tenho tido dificuldades em adormecer e em dormir tantas horas como habitualmente.
O meu avô está numa altura da vida em que já precisa de ajuda a vários níveis, mas recusa-se terminantemente a aceitar isso. Continua a querer fazer tudo sozinho, ainda que não tenha lucidez nem capacidade para tal. Como é que podemos ajudar alguém que não quer ser ajudado? O desgosto está a levar-lhe a vontade de viver e se lhe tiramos a independência, o que vai ser dele? Entretanto, a vida de toda a gente anda de pantanas.
Quem conhecesse o meu tio, pensaria que ele era uma pessoa de bem com a vida. Víamo-lo sempre alegre, de sorriso na cara e copo na mão. Sempre cheio de piadas e parvoíces na ponta da língua. Sempre com brincadeiras e bem-disposto. Mas, no fundo, ele chorava em silêncio, em casa. Nunca teve uma vida fácil e os problemas sempre foram muitos. Aquela capa que ele usava era mesmo isso, uma máscara. Dizia ele que bem podia morrer, porque não fazia cá falta a ninguém. Mas fazia. Faz. Aos amigos, aos irmãos; aos sobrinhos, aos pais... Como faz, que deixou um buracão na vida de toda a gente!
Desculpem lá a deprimência deste post, especialmente depois de tantos dias sem cá pôr os pés. Prometo que o próximo não vai ser tão triste e espero que estas últimas semanas tenham sido mais generosas convosco do que foram comigo.