Tenho estado ausente nos últimos dias, apesar de estar por casa e com mais tempo livre, por um motivo simples. Sinto a cabeça a latejar com tudo o que se está a passar. E parece que me faltam as palavras. Eu já passava o meu tempo em casa, um bocado presa, trabalhando como ama. Mas agora... mudou tudo. Este fantasma do corona assombra as nossas vidas. Há 3 semanas consecutivas que não saio de casa. A única pessoa que sai é o meu marido quando é necessário. E, até agora, para trabalhar. Foi despedido entretanto, como todos os temporários da empresa. Como tantos outros neste momento pelo país fora. As redes sociais estão cheias até à boca de publicações, notícias, opiniões sobre este assunto.
De um lado, pessoas que opinam que nos queixamos de barriga cheia por ter que estar em casa numa era com tanto acesso à Internet, com serviços de streaming, com imensos canais, concertos e visitas guiadas online, com entrega de compras em casa e com a possibilidade de, basicamente, podermos fazer toda a nossa vida virtualmente. Por oposição, há as que já não aguentam a falta de liberdade, dos passeios de fim-de-semana, a impossibilidade de abraçar família e amigos. Pessoas que se queixam da pressão do teletrabalho e no reverso da moeda, aquelas que perderam os seus empregos, sem saber o que será daqui para a frente a nível financeiro. Pessoas que dizem estar a dar em doidas 24/7 com os filhos e outras a dizerem que davam tudo para estar com os seus ou ainda que "se não queriam aturá-los, não os fizessem".
Sempre que o meu marido precisa sair, sinto-me paranóica quando ele entra em casa, troca roupa, tira sapatos, lava mãos, desinfecta. E as notícias... usa máscara, não usa máscara, usa luvas, não usa luvas. Quando ele traz compras, é uma sangria desatada a desinfectar as coisas, a tirar das embalagens, é o pão que nunca fica no saco onde é comprado, é o desinfectar a mesa onde se pousou os sacos, é lavar as mãos sempre que se mexe em dinheiro.
É ter que fazer compras grandes de uma só vez para não ter que sair frequentemente ou fazer online com um mês de antecedência para que as coisas cheguem na altura necessária. É pensar a toda a hora se estamos a fazer tudo bem e se não deixámos passar nada, com a cabeça a mil.
Nem consigo expressar uma opinião concreta sobre o estado de emergência, as medidas tomadas, as atitudes das pessoas, o uso devido ou indevido dos equipamentos de protecção, o mundo como ele está... sinto o meu cérebro a dar nó atrás de nó, num emaranhado de pensamentos sufocantes e que não me deixam respirar... como se tivesse um milhão de vozes a gritar dentro da minha cabeça que me impedem de pensar claramente.
Sou a única?