sábado, 21 de julho de 2018

Adaptações familiares

Há dias, no fórum de mamãs, li a publicação de uma participante que, resumidamente dizia que estava grávida do primeiro filho, mas o marido já tinha uma menina com 10 anos. Ele foi pai adolescente e a filha cresceu em casa dos avós com ele lá, mas, no fundo, educado pela avó. Actualmente, estando eles a viver juntos há 3 anos (penso eu), a menina alterna entre a casa deles e a da avó e esta sente-se no direito de opinar e decidir sobre a educação da neta. Já a menina, segundo descreveu a madrasta, é uma criança mimada, manipuladora, com um feitio difícil, que não respeita o pai e quer tudo à maneira dela. Além de tudo isto, esta pessoa diz ainda que quer viver a gravidez só com o companheiro, não quer levar a enteada às ecografias e não a quer na maternidade quando a bebé nascer. Admite mesmo que sempre se sentiu triste por não ter podido vivenciar a experiência da maternidade desde o princípio com ele, pois ele já tinha sido pai e, portanto, que nada disto é novo para ele.

As conclusões que tiro ao ler isto são as seguintes:

Esta mulher nunca conseguiu lidar com o facto de que o companheiro não ia passar por isto pela primeira vez como ela e, por isso, quer fazer de conta que a filha dele não existe durante este período, para que possa criar a ilusão de que são só eles e a nova bebé.

Também leio aqui que ela não supera o facto de ele já ter uma criança de uma relação anterior, quer-me parecer que ela gostaria mais se a miúda estivesse permanentemente com a avó e nunca com eles, para, mais uma vez, ela se iludir na visão da família feliz só com o marido e a bebé e não ter que lidar com o feitio de uma criança de 10 anos que não é dela.

Eu, no meu casamento, sou o progenitor que entrou na relação já com um filho, que também viveu até aos 4 anos dele em casa dos avós, avós esses que também participaram muito activamente na sua educação, já que a gravidez não foi planeada e eu não estava preparada para tudo aquilo.

A diferença aqui é que o meu companheiro sempre aceitou bem que a minha realidade era esta. Se me queria a mim, teria que ter também o meu filho. Se queria uma vida comigo, teria que deixar entrar o Leo e saber que ele faria sempre parte da nossa família. Nunca poderia ser o meu marido de um lado e o meu filho do outro, mas sim os três como um todo. E foi sempre assim e continua a ser, mesmo eu estando agora grávida de uma filha dele.

No caso da rapariga que escreveu esta publicação, acredito que seja complicado lidar com uma menina com 10 anos (idade difícil) que não é nossa. Ela tem que começar a aceitar que a criança faz parte da família deles e não exclui-la, porque isso não vai ajudar nada, muito pelo contrário. A criança também percebe, certamente, que a madrasta não a aceita e isso há-de reflectir-se nas suas atitudes. Quanto a ela ser manipuladora, também acredito, não é exclusivo dela, muitas crianças tentam manipular quem as educa, principalmente nestes casos em que há avós muito presentes, mas cabe aos adultos entenderem-se e não discordar abertamente à frente dela, ou essa "manipulação" não vai ter fim à vista.

Como parte do casal que já tinha um filho, não posso, com conhecimento de causa, falar sobre o ponto de vista da outra parte. Compreendo que possa não ser fácil, mas é uma coisa sobre a qual em que se pensar antes de entrar na relação e saber que, acima de tudo, a criança que já cá está é quem menos tem culpa das decisões e mudanças na vida dos pais e que se há alguém que não deve sofrer é ela. Os pais, geralmente, põem os filhos em primeiro lugar e é isso que um padrasto/madrasta tem que aprender a fazer também.

Por último, dizer ainda, e aqui sim, por experiência própria, que este bebé que vai nascer daquele relacionamento, vai ser, sim, toda uma experiência nova para o pai. Era adolescente, vivia com os pais, não tinha uma relação estável na altura, tinha toda uma outra realidade. É óbvio que vai ser tudo diferente. Eu sinto que será assim comigo. Que esta gravidez e esta bebé são todo um novo mundo, porque a minha vida é totalmente diferente do que era quando tive o meu pequeno.

4 comentários:

  1. Quando ela começou o relacionamento decerto soube logo da existência da filha dele. Não deve ser sempre fácil, acredito, mas se avançou para uma relação séria tem que aceitar a menina, que não tem culpa nenhuma das decisões adultas. Se a mulher não estava disposta a lidar com isto afastava-se antes de tomar certas decisões. Muito provavelmente se começassem a incluir mais a menina em certos momentos o comportamento dela poderia alterar-se. As crianças sentem tudo. Principalmente quando não são bem vindas.

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  2. São situações complicadas. Não gosto muito de falar...

    Beijocas

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  3. Bom ver estes teus posts sobre a gravidez, os preparativos e as adaptações :)

    Olhando para este caso, lembro-me da minha mãe, que foi abandonada pela minha avó e foi criada pela minha bisavó e meu avô.

    Acredito que as atitudes partem muito das bases familiares e da educação... a minha mãe sofre muito mais do sindroma do abandona do que do sindroma da manipulação.

    Mais depressa tem a minha avó atitudes de manipuladora (a minha avó re-apareceu na vida da minha mãe, quando esta tinha 16 anos) do que na minha mãe e sim, acredito que tudo isso venha de inseguranças e medos.

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  4. Não são coisas fáceis de se lidar já se sabe. Mas ela enquanto adulta, bem como o companheiro quando resolveram avançar com a relação já sabiam de tudo isto. Uma conversa pode não resolver todos os problemas mas esclarece posições. E talvez essa conversa nunca tenha surgido e só agora, numa situação como esta (gravidez, idade da miúda, avós) é que se estão a deparar com uma série de coisas a resolver.
    https://jusajublog.blogspot.com/

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