quinta-feira, 27 de setembro de 2018

As mamas das outras

O fundamentalismo da amamentação chateia-me. Mas acho que ainda me chateiam mais aquelas mulheres que dizem respeitar quem não dá mama e que acham muito bem que cada uma faça as suas próprias escolhas (há as que o dizem sinceramente e não é para essas que estou a falar), mas depois toda a postura e comentários pouco subtis sobre essa decisão é todo um julgamento. 

Como dizerem que não entendem "como é que algumas mulheres não conseguem e simplesmente desistem". Simplesmente?? Nem para todas a amamentação é uma coisa fácil e nem todas conseguem facilmente ultrapassar os obstáculos que ela acarreta. E a desistência de simples nada tem. Não entendem porque não passaram por isso.

Ou dizerem que é a coisa mais natural do mundo porque todos os mamíferos o fazem e que a dificuldade está toda na nossa cabeça. Não está. E quem diz isto é porque não passou, claramente, por grande dificuldade em amamentar. Não quero com isto dizer que é impossível, mas entendam, minhas senhoras: um bebé não pegar correctamente na mama, não conseguirmos perceber se mamou suficiente porque não temos como medir, mulheres com mamilos invertidos que podem dificultar a pega, as fissuras que podem surgir... não são coisas que se passam na nossa imaginação, acontecem na realidade e há que saber ultrapassá-las. E, às vezes, não é tão simples como vocês fazem parecer!

Outra pérola é afirmarem que, se por alguma razão, a mãe deixar de amamentar, tem tudo a ver com a alimentação dela, porque ela é que não se está a alimentar correctamente e, como tal, isso afecta o leite materno. Isto é só ridículo. Não é ridículo que isto possa incluir-se nos motivos que dificultam a coisa... mas sim assumir que isto é A RAZÃO para deixar de se dar mama. Todos os outros factores já referidos são só coisas inventadas!

E ainda comentários paternalistas do género "todas as mães que querem o melhor para o seu bebé, deviam fazê-lo". Mais precioso é ouvir isto da boca de algumas que nem nunca foram mães. Como se as outras, as que não dão mama, seja qual for o motivo, que é irrelevante, fossem todas más mães, que, obviamente, não querem o melhor para os seus filhos! Guardem essa diarreia verbal para vocês, sim?

Nem todas estão dispostas a sangrar enquanto dão mama, a morder um paninho para aguentar as dores enquanto o bebé está ali a massacrar o mamilo, nem sempre a bomba é tão espectacular como se diz para tirar o leite materno; e, pasme-se, algumas querem ter essa tarefa dividida com o pai do bebé e não ser exclusivamente responsabilidade delas. Todos os motivos são válidos. Até mesmo os que nos possam parecer mais fúteis, porque existem alternativas ao leite materno e, como tal, não cabe a ninguém decidir que motivos são aceitáveis ou não.

Há mães que não amamentam pelos mais variados motivos. Mas quando é por opção, são sempre olhadas de lado. Não têm que ser. Quem são vocês para julgar as outras e a forma como escolhem alimentar os filhos? Não os estão a fazer passar fome, nem a alimentá-los a merda, pois não? Então ponham-se lá no vosso lugar e fiquem caladinhas, que fazem melhor figura.

5 comentários:

  1. Não tenho paciência para gente que se mete onde não é chamada. Dei de mamar 11 meses porque quis, embora o meu filhote já não demonstrasse interesse desde os 8 meses... não gostei nem desgostei, foi-me natural!

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    1. Fizeste o que achaste melhor e porque foi natural para ti. E fizeste lindamente!

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  2. Ainda sem ser mãe, e com muitas dúvidas acerca da "vida materna" já reparei que este assunto da amamentação cria imensos julgamentos! Há dias comentava com o namorado que não estava certa acerca de amamentar um filho. Tenho umas (mini) mamas com alguns problemitas e que dão muitas dores. A não ser que com a gravidez isto passe dificilmente me vou sujeitar a sentir o dobro das dores que já sinto agora para amamentar. Quando chegar lá logo decido, afinal eu tenho poder de decisão sobre o assunto. Tal como cada mãe tem sobre aquilo que é relacionado com o seu filho. Tudo o resto é para ignorar!
    https://jusajublog.blogspot.com/

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    1. Pois, não é uma decisão assim tão fácil, por vezes e acho que, mesmo quem quer tentar, não deve sentir-se mal por desistir quando não corre bem. Não é nenhum pecado! Mas o cerne da questão é mesmo esse: cada mãe faz o que acha melhor. Simples.

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  3. Acho que qualquer assunto que remeta para a maternidade deixa certas pessoas loucas. Há quem se agarre a fundamentalismos e ignore o que rodeia. Por exemplo, dizem que bebés que não bebem leite materno não ganham tantas defesas e ficam mais vezes doentes. No entanto eu não peguei no peito e sempre fui bastante saudável. Se há 30 anos atrás as pessoas já se criticavam tanto hoje em dia, com tanta informação (muita dela tendenciosa), é 10x pior. Deixem as famílias em paz e com as suas próprias decisões. Que mania de se intrometerem.

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